ROMANTISMO REBELDE

O rosa choque, tecidos transparentes, laços e bordados florais: o que todos esses itens têm em comum? A construção do que é considerado ultra feminino. Além do Barbie Core, houve outras estéticas associadas a elementos estereotipicamente femininos nos anos pós pandemia. A boneca foi criada com o intuito de evidenciar a possibilidade de escolhas para as mulheres. Entretanto, com o passar do tempo, a leitura acerca da Barbie ganhou uma conotação negativa, uma vez que era acreditado que a boneca reforçava padrões nocivos de imagem corporal e pessoal. Após isso, a sua linha passou a expandir e abranger imagens de mulheres diversas, culminando posteriormente com o enredo do filme estreado em 2023.

Nas semanas de Moda, a popularidade do conceito contemporâneo de feminino se tornou extremamente evidente na temporada de O/I 23/24, onde algumas análises mencionaram a feminilidade como temática central, abordada a partir de algumas perspectivas adversas. A Heuritech, por exemplo, afirma que as peças dessa temporada “refletem a aparência e o ser da mulher moderna no mundo”, onde “O objetivo não é encapsular as mulheres numa imagem idealizada, mas sim celebrar a multiplicidade da feminilidade sem a necessidade de validação externa”.

Essa ideia perdurou até as coleções apresentadas no início de 2024. Na semana de Alta Costura P/V 24, houveram duas coleções que representaram o estilo na versão que possivelmente seguirá para as novas temporadas: as de Simone Rocha para Jean Paul Gaultier e de Maison Margiela, sob comando de John Galliano. Nessas coleções, foi possível perceber a mudança de uma temática feminina romântica, para uma versão rebelde. Em Copenhage, para o O/I 24/25, também são observadas peças que seguem esse direcionamento, onde Ganni, Forza Collective e ROTATE são alguns exemplos de marcas que o incorporam.

Em termos de elementos do romantismo sob uma variação rebelde, é perceptível uma mudança expressiva na cartela de cores. No romântico, associado ao Barbie core, os rosas vibrantes – especialmente de subtom frio – eram o ponto central das composições. Agora, a atenção se volta para tons de pêssego extremamente claros (11-1306-TCX), junto às cores impactantes, como o preto e o vermelho. Algumas vezes, como na coleção da Maison Margiela, podem se fazer presentes outros tons pastel, onde o tom subversivo é dado por outros elementos na peça.

Tecidos fluidos, transparentes e/ou finos, como musseline, tule e cetim, são utilizados de forma que comunicam leveza. A inclusão do tule pode ainda ser ligada com a popularização da estética do Ballet, que também é relacionada ao ideal romântico. A diferenciação dos materiais aqui com a sua aplicação na temática romântica geral é especialmente dada pela modelagem das peças e a combinação dos tecidos. Isso pode ser visto dos diferentes espartilhos vistos nas marcas de Alta Costura, por exemplo, onde o mesmo tecido serviu de base para peças que se comunicam ideias distintas, mesmo dentro do mesmo conceito e coleção.

Padrões florais são, sem dúvida, os mais representativos da temática; aparecendo em forma de estampa e também de bordado. Para o O/I 24/25, há uma baixa de 11% no uso dessa estampa, segundo a Heuritech. Porém, a empresa afirma que as consumidoras de faixa etária acima de 36 anos ainda apresentam grande afinidade com a estampa. Na joalheria, a utilização de elementos florais, sempre presente nas temporadas até 23, também dá espaço a outras inspirações.

Marcas que trabalham com elementos urbanos podem utilizam desta temática de forma geral para adicionar romantismo aos seus produtos, podendo atingir um público que busque pelo estilo romântico. Já marcas que sejam alinhadas aos estilos elegante e clássico podem utilizar as características do conceito de forma pontual, como as cores e materiais, para trazer essa referência sem perder a sua identidade.