[MODA] Recession core

Desde as políticas de ação em relação ao Covid-19 questionava-se a repercussão econômica global e de cada nação, frente às diferentes abordagens de cada país. À medida que a pandemia foi abrandando o otimismo tomou conta da sociedade, que voltava a usufruir da sua liberdade e direito de ir e vir. Entretanto, com a restrição de diversos serviços e, consequentemente, de produtos, impactou fortemente setores que ainda não se restabeleceram. Com as consequências sendo visíveis e, muitas vezes, maiores do que o esperado, uma recessão global se tornou iminente a partir do segundo trimestre de 2022.

Somadas a esse cenário, problemas políticos e geopolíticos na Europa, como a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, na América, como os problemas nucleares de Cuba, e na Ásia, como a possível invasão da China em Taiwan. Economistas contabilizaram 70% de chance de recessão nos EUA neste ano – sendo que essa probabilidade aumentou em 65% em novembro de 2022, o dobro do percentual estabelecido em maio do mesmo ano, segundo o Bloomberg.

Também ao fim de 2022, o dicionário de inglês Collins elegeu o termo “permacrisis” como a palavra do ano – significando “longo período de instabilidade e insegurança, especialmente um resultante de uma série de eventos catastróficos”; afirmando que ela “incorpora perfeitamente a sensação vertiginosa de passar de um evento sem precedentes para outro, enquanto nos perguntamos sombriamente que novos horrores podem estar por vir”. Para o Deutsche bank, há um consenso que 2023 estará no top 3 piores anos do século XXI, do ponto de vista econômico – ficando atrás de 2020, o ano em que o Covid-19 se estabeleceu mundialmente, e 2009, consequente à crise financeira de 2008. Ou seja, apesar de “permacrisis” ter sido o termo de 2022, esse período de instabilidade segue em 2023.

Prada

Diferente do caos que ocorreu em outros anos deste século e até mesmo do passado, a catástrofe foi anunciada desta vez. A partir dessa espécie de preparação psicológica para os problemas que ainda estão por vir, os problemas sociais mundiais refletem-se no design de todos os produtos possíveis, especialmente na moda. No momento que a recessão se tornou um tópico relevante, o recession core surgiu – vinculado fortemente ao “quiet luxury“, onde a pesquisa por marcas com essa estética aumentou em 12% no último ano, com base no Google Trends.

Guiado por um conceito minimalista, o recession core passou a ser uma tendência discutida desde o início de 2023, especialmente após as semanas de moda da temporada de Outono/Inverno 23/24. Com silhuetas ajustadas à levemente fluidas, o estilo foi pautado fortemente na alfaiataria – não somente no que se associa à alfaiataria (a exemplo de peças como blazers, camisas e conjuntos), mas no quesito de funcionalidade, cortes limpos, foco em acabamentos de extrema qualidade e tecidos duráveis. Esta tendência busca mudar o status de peças básicas como base de looks com styling complexo – geralmente com muitas cores, estampas ou texturas, para o patamar de serem o foco da composição. 

Hermès
Versace

Tanto para o público feminino, quanto o masculino, as principais cores exploradas são as neutras, sendo majoritariamente suaves e com a prevalência de fundos quentes ou neutro-quente, de qualquer profundidade. Cinzas e beges são as cores principais (encontradas frequentemente das passarelas de Milão e Londres), complementadas por branco e off-white – além de preto (aposta das marcas em 45% das suas coleções de O/I 23/24, em especial em Nova York e Copenhagen) e azul marinho (utilizado em 18% das peças de outerwear nessa temporada, uma das principais cores de Paris). Evidentemente, a estamparia não é um fato relevante dentro deste contexto, onde os poucos padrões encontrados são os clássicos, como listras e xadrez.

Emilia Wickstead
Louis Vuitton
Schiaparelli

O styling segue a ideia de simplismo, incorporando a construção de combinações completamente monocromáticas ou com a presença de acessórios contrastantes, como sapatos e bolsas pretas de couro. Como já mencionado, os materiais duráveis e tradicionais da alfaiataria dão o norte para a construção das peças – tendo em vista que, em conjunto com os outros elementos, esses tecidos passam a mensagem de sobriedade. Lã batida, lã tramada em malhas finas e tricoline constituem a cartela de tecidos utilizados em roupas de uso cotidiano, já o cetim é a escolha para looks festivos – mostrando que não vivemos apenas de austeridade.

Miu Miu
Dior
Hermès
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