Hotel espacial: rompendo estéticas

O sonho de tornar os humanos uma espécie multiplanetária já dura mais de cem anos. Com foguetes sendo lançados na lua e outros indo até Marte, os humanos continuam a progredir na busca de ocupar lugares além da Terra. Nos últimos meses, os bilionários Jeff Bezos e Richard Branson pagaram para cruzar ou chegar à borda da Linha de Kármán, a fronteira entre nossa atmosfera e o espaço sideral. Ao lado de uma clientela em ascensão da estatura de Bezos e Branson, a era das viagens de lazer completas ao espaço parece próxima, mesmo para uma fuga de alguns dias.

Um hotel espacial pode exemplificar como a vontade de estar presente em outros lugares do universo pode se tornar possível para mais pessoas em um curto período de tempo. O turismo espacial percorreu um longo caminho desde simplesmente lançar foguetes em órbita até agora, onde as pessoas poderão reservar um quarto em um hotel no espaço e passar a noite olhando para a Via Láctea. A start-up Orbital Assembly Corporation (AOC), de Sacramento (EUA), anunciou planos para abrir um hotel espacial, pretendendo lançar não uma, mas duas estações espaciais com acomodações turísticas: a Voyager Station, programada para ser um resort de luxo projetado para acomodar 280 hóspedes e 112 tripulantes, com restaurante, bar, sala de concertos, ginásio e até cinema e abrir em 2027; enquanto o novo conceito Pioneer Station, com capacidade para 28 pessoas, pode ser operacional em apenas três anos, ou seja, em 2025.

A Voyager Station é única em muitos aspectos: além de se apresentar como o primeiro hotel no espaço sideral, também leva o conceito de uma arquitetura única. Espera-se que o visual do hotel seja caracterizado por uma colossal estrutura circular com 200 metros de comprimento. O conceito da estrutura circular, proposto no início dos anos 1900 como uma forma de gerar gravidade artificial, foi posteriormente popularizado na década de 1950 pelo cientista de foguetes alemão Wernher von Braun – a Voyager foi originalmente nomeada em sua homenagem. Graças à força centrífuga que produz, os visitantes poderão deslocar-se normalmente ou, como a OAC coloca em seu site: “Nós fornecemos gravidade”. A princípio, seu nível de gravidade será semelhante ao da Lua, cerca de um sexto do da Terra, sendo aproximadamente uma revolução e meia por minuto. Tim Alatorre, vice-presidente da OAC e arquiteto por trás do hotel, diz que espera girá-lo até o nível de Marte – um terço da gravidade da Terra – e, eventualmente, replicar o peso de nosso planeta natal. Mas, com poucas pesquisas sobre como os humanos se adaptam à gravidade artificial, eles querem entender melhor a fisiologia de seus convidados antes de aumentar a força G.

Renderizações dos interiores de ambas as estações sugerem um interior não muito diferente de um hotel de luxo aqui na terra, apenas com algumas vistas adicionais de outro mundo. Alatorre, que tem formação em arquitetura, disse anteriormente que a estética do hotel foi uma resposta direta ao filme de Stanley Kubrick “2001: Uma Odisséia no Espaço” – que ele chamou de “quase um projeto do que não fazer”. “Acho que o objetivo de Stanley Kubrick era destacar a divisão entre tecnologia e humanidade e, assim, propositalmente, ele tornou as estações e as naves muito estéreis, limpas e estranhas”. É importante fazer a análise de que, enquanto o futurismo dos interiores aqui na Terra focam na tecnologia e em criar ambientes com elementos que remetem mais ao digital, o hotel espacial mantém uma estética bem tradicional, “apenas” com o adicional de possuir uma vista para o sistema solar, mas sem referências como Star Wars e outros filmes futuristas.

A empresa também pretende entreter os hóspedes, especialmente convidando artistas de destaque de todo o mundo para se apresentarem diariamente no hotel espacial – levando as experiências para o espaço. A ideia é que os visitantes esperem algum tipo de entretenimento de alta qualidade sempre que estiverem no hotel, gerando ainda mais motivos – além do visual indescritível – para que a escolha seja descansar a bordo da Voyager.

Segundo Alatorre, conversar sobre tirar férias no espaço será algo cotidiano. “Acho que vai ser normal, onde sua mãe foi para o espaço, seu pai foi para o espaço”, diz ele. “Ser astronauta não será mais uma novidade, porque todo mundo já fez isso”. A taxa atual para um passeio fora deste mundo ainda é exorbitante. Oliver Daemen, por exemplo, pagou US$ 28 milhões por um assento ao lado de Bezos no espaço e, historicamente falando, esse é o limite inferior. Por enquanto, essas viagens são prerrogativa dos super-ricos. Mas, Alatorre diz: “Queremos fazer desta uma escolha fácil. Se você quer ir a Paris por uma semana ou quer ir ao espaço por uma semana, queremos que seja uma questão de preferência, não de dinheiro”. Embora ele não tenha discutido os preços em detalhes, ele diz que o objetivo é que uma estadia na Voyager rivalize com uma passagem de cruzeiro. Em contrapartida, várias fontes colocaram o preço da reserva em US$ 5 milhões, cobrindo uma estadia no hotel por aproximadamente três dias.

À medida que os bilionários injetam dinheiro no espaço, também há uma reação crescente contra o turismo espacial, com muitas pessoas sugerindo que o dinheiro poderia ser melhor gasto na Terra. Em resposta a essa crítica, Alatorre sugeriu que “muitas tecnologias que mudam a vida” derivam da exploração espacial, como o GPS. Alatorre também postulou que viver no espaço envolverá a criação de “sociedades sustentáveis”: “Esse tipo de sistema de circuito fechado vai mudar a cultura, a maneira como as pessoas pensam sobre a utilização de recursos. Nosso ambiente não é apenas a Terra, é todo o sistema solar. E há tantos recursos lá fora, quando começamos a utilizar e capitalizar esses recursos que vão mudar e melhorar o padrão de vida aqui na Terra”, disse ele.
Mas, construir um hotel espacial é uma coisa, acessá-lo é outra, e isso é um ponto importante que a empresa também levou em consideração. Propõe-se que o transporte para o hotel espacial seja feito por outra empresa: o destaque está na SpaceX Starship como a empresa proposta para ser responsável por lidar com esse transporte. Embora isso ainda não tenha sido finalizado, há muita ajuda que a SpaceX Starships pode oferecer para tornar esse turismo espacial uma realidade. Embora o chefe da SpaceX tenha outras missões espaciais, a Orbital Assembly Corporation revelou intenções de trabalhar com eles no futuro, e só podemos esperar que a proposta seja bem-sucedida.

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