Muitas, para não dizer todas ou quase todas, das marcas de moda renomadas possuem o nome de seus fundadores, como Dior, Chanel, Valentino e Schiaparelli. Além de fundadores, eles atuavam (ou ainda atuam, como no caso de Domenico Dolce e Stefano Gabbana, da Dolce & Gabbana) como diretores criativos, porém em algumas marcas são antigas demais para que isso seja possível. A mudança de diretores criativos é algo comum de acontecer em grandes marcas de moda, porém nos últimos anos essa troca vem ocorrendo em uma velocidade muito maior do que jamais vista.
De forma geral, a descrição do trabalho de um diretor criativo consiste em assegurar a qualidade dos produtos, criando uma unidade estética da marca e gerando um alto número de vendas. É por conta desse último ponto que muitas dessas mudanças têm ocorrido atualmente. Em entrevista ao Business of Fashion, Jean-Marc Duplaix, vice-CEO da Kering – grupo das quais marcas de luxo como Balenciaga, Saint Laurent e Gucci fazem parte – afirma que o intuito de selecionar novos diretores/as criativos é de reforçar o estilo da própria marca e não de outras associações.
Alguns nomes divulgados, que assumiram seus novos postos em 2024, incluem Chemena Kamali na Chloé, Matteo Tamburini na Tod’s, Alessandro Vigilante na Rochas, Walter Chiapponi na Blumarine. Marcas como Gucci e Alexander McQueen contaram com a estreia dos seus novos diretores ainda em 2023, sendo eles Sabato De Sarno e Seán McGirr, respectivamente. Na Valentino, Pierpaolo Piccioli deixa a Valentino após 25 anos, sendo seguido por Alessandro Michele, que anteriormente estava no comando da Gucci. Ou seja, mesmo diretores criativos que estavam há décadas encarregados das marcas estão deixando, ou sendo forçados a deixar, os seus cargos, podendo gerar uma grande mudança na estética e em outros elementos das marcas.
Entre esses nomes é possível observar a predominância de homens no posto, mesmo em linhas voltadas para o público feminino, adicionando ao número de homens que vêm . Apesar do menor número, o seu desempenho geral é melhor do que o de marcas comandadas por homens. Entre as principais 20 marcas, apontadas pela Tagwalk, 6 marcas entre as 10 marcas de maior desempenho e 7 entre 20 foram lideradas por mulheres na temporada de Primavera/Verão 24. Na Vogue Business, é apontada que essa disparidade passou a ser mais evidente após a exposição Women dressing women.
Considerando a temporada de Outono/Inverno, na LVMH, o maior conglomerado de luxo no mundo, com 75 marcas, a quantidade de mulheres em cargos de liderança é baixíssima. Dior e Pucci estão sob comando de mulheres contratadas, de Maria Grazia Chiuri e Camille Miceli, enquanto Stella McCartney e Phoebe Philo são responsáveis pelas suas próprias marcas homônimas. Na já mencionada Kering não há registro atual de marcas com mulheres na direção criativa.
Embora a parcela do número de mulheres nos grupos de luxo estejam melhorando, para a WWD, os cargos ocupados estão localizados nas áreas de gestão, do marketing ou das comunicações, e não no lado criativo. Enquanto as marcas afirmam justificam as mudanças dos diretores por meio das relações econômicas e estéticas dos criadores e das marcas, não há uma indicação aparente do motivo da falta de mulheres nesses cargos.
As críticas aos produtos desenvolvidos por mulheres são afetados diretamente por meio do preconceito, direto ou velado, que a sociedade ainda possui. Em entrevista à WWD, diversas diretoras, como Clare Waight Keller, Gabriela Hearst e Maria Grazia Chiuri mencionam o julgamento que mulheres sofrem em relação a avaliação do que é considerado criativo dentro da moda, a partir de um viés de gênero. Com a imagem dos criadores sendo a principal referência ao se tratar das marcas de luxo, é possível que as marcas ainda se apoiem e busquem trazer homens para esses cargos a fim de demonstrar uma imagem de poder, com base em uma ideia preconceituosa.
REFERÊNCIAS
Business of Fashion, 2023. Kering Lags Luxury Peers. Disponível em: https://www.businessoffashion.com/articles/luxury/kering-lags-luxury-peers/
Francombe, 2023. Why are so many creative directors white men? Disponível em: voguebusiness.com/fashion/why-are-so-many-creative-directors-white-men
Tagwalk, 2023. Brands led by women. Disponível em: instagram.com/p/Cyxc5v_o6vF/
Vanity Fair, 2023. Nothing Is Forever: How Fashion’s Creative Director Exodus Will Shape the Industry. Disponível em:
Vogue, 2024. Alessandro Michele Is the New Creative Director of Valentino. Disponível em: https://www.vogue.com/article/alessandro-michele-is-the-new-creative-director-of-valentino
Vogue Business, 2023. How long should brands give a creative director to succeed? Disponível em:
WWD, 2023. Why are there so few female creative chiefs at the big fashion houses? Disponível em: https://wwd.com/fashion-news/fashion-features/why-are-there-few-female-creative-chiefs-big-fashion-houses-1235882480/