[ARQUITETURA] Design de Interiores no mundo digital

A arquitetura, analisada como profissão, ainda permanece enraizada no passado, enquanto, ao mesmo tempo, possui uma visão totalmente voltada para o futuro. Nos últimos anos, a tecnologia avançou em um ritmo acelerado, desenvolvendo ferramentas e sistemas que mudaram a maneira como entendemos o mundo, onde os espaços digitais estão se tornando uma realidade acessível, e o metaverso promete potencializar a interação humana.

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A relação entre o design e a tecnologia sempre foi muito próxima, mas com o grande consumo da inteligência artificial, as colaborações aumentaram ainda mais. O Midjourney, por exemplo, foi um dos pioneiros na criação de imagens através da IA, e virou uma verdadeira febre em todo o mundo, onde profissionais de todas as áreas ficaram curiosos para testar essa ferramenta. Ao digitar “Midjourney interior design” no Behance, uma plataforma de compartilhamento de projetos e imagens, é difícil distinguir os projetos reais dos projetos criados por IA.

Seguindo esse viés, a importância dos processos colaborativos que envolvem a criação conjunta já é algo muito disseminado na arquitetura e no design, afirmando um contexto no qual há cada vez menos espaço para trabalhos individuais e muito mais para o coletivo. Sendo assim, a ideia da obra criada única e exclusivamente pelo arquiteto já é entendida como uma distorção da realidade que contempla a concepção de um projeto, onde o “novo ideal” pende para agregar também a comunidade e seus usuários.

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Esse espírito de colaboração é uma das grandes diretrizes do novo século, atingindo um outro patamar que inclui a relação não somente entre nós, humanos, mas entre espécies diferentes. É possível perceber um foco no “retorno à natureza” nas atitudes que permitem estarmos atentos ao que nos envolve, nos inspirando a buscar soluções simples e inteligentes para as inovações.

À medida que a IA ganha força, os arquitetos e designers estão trabalhando para explorar o futuro da estética e como podem melhorar os processos. “Os algoritmos podem otimizar os critérios de desempenho e ao mesmo tempo apresentar uma variedade estonteante de formas e padrões visuais”, escreveu o diretor da Johnson Fain, Scott Johnson. Cada vez mais, as máquinas projetam sozinhas, seja por meio de hardware, software ou periféricos. Os designs do algoritmo são “comparáveis ​​ou superiores” aos criados por humanos, dizem os engenheiros do Google, mas podem ser gerados muito, muito mais rápido.

“Todos os espaços físicos que nós (arquitetos) projetamos – edifícios, interiores e cidades já nascem como metaespaços, e nós os chamamos de modelos 3D”. Com essa afirmação Brian Jencek, diretor de planejamento da empresa de arquitetura HOK, de San Francisco, estreita os limites entre o modo de projetar atual e o futuro da arquitetura no metaverso. Segundo ele, não estamos tão longe assim desta tecnologia, já que usamos as mesmas ferramentas que os designers visuais utilizam para criar ambientes realistas.

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@carlosbannon

Mas, apesar desses pontos em comum, a construção no metaverso exigirá novas habilidades: além da modelagem 3D, será necessário incluir outras funções como o design de conteúdo, de personagens e de jogos. Com isso, o mundo da arquitetura se abrirá para diferentes profissionais, gerando uma equipe ainda mais multidisciplinar, focada no processo de projeto da nova era.

A relação com o mundo dos jogos virtuais, por exemplo, já pode ser vista em colaborações inéditas de grandes escritórios de arquitetura com a indústria de entretenimento como Zaha Hadid Architects, que recentemente trabalhou em conjunto com a empresa de jogos PUBG Mobile na criação de um ambiente virtual onde os jogadores experimentam um campo de batalha esteticamente bonito e tecnicamente rico.

O escritório mundialmente reconhecido também faz parte do júri que avaliará a competição global de design e IA, lançada pela SPACE10, projeto da Ikea. Numa competição inédita, o SPACE10 desafia os participantes a aplicarem novas ferramentas de IA em futuras casas e cidades. “Regenerative Futures” é parte competição e parte pesquisa de código aberto, incentivando a brincadeira e a imaginação para criar conceitos visuais de futuras casas, comunidades e cidades que ajudem a enfrentar alguns dos maiores desafios enfrentados pela vida cotidiana.

@carlosbannon
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Voltando a falar sobre o design de interiores no mundo digital, existem duas ramificações de produtos a serem criados: wearables e scenes. O primeiro, como o próprio nome diz, está relacionado a mercadorias digitalizadas, como peças de roupas, objetos de design e outros produtos que não se enquadram no domínio arquitetônico. No caso da arquitetura, a criação no metaverso está relacionada às scenes (“cenas”), consideradas estruturas ou paisagens arquitetônicas. Para construir uma scene,é necessário acessar uma plataforma de metaverso. Hoje em dia as mais populares são a Sandbox, Cryptovoxels e Decentraland.

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De forma diferente da arquitetura no mundo físico, os projetos no metaverso requerem abordagens mais específicas para gerar uma experiência imersiva. Nesse sentido, muitos arquitetos têm se apropriado de ferramentas da indústria cinematográfica como o storyboard para dar mais vida a suas criações. Além disso, há uma forte movimentação a favor do papel fundamental que os arquitetos têm na construção desses espaços em detrimento dos desenvolvedores de jogos.

@timurmtn
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Patrik Schumacher, diretor de projetos no Zaha Hadid Architects, afirmou em entrevista ao ArchDaily sua crença de que será no metaverso onde grande parte da ação arquitetônica e da inovação acontecerá na próxima era, e deixá-lo nas mãos da indústria do entretenimento é um erro de propósito e de critérios.  Essa afirmação ressalta a importância dos arquitetos na criação dessa nova era tecnológica pois, assim como na vida real, não basta projetar estruturas esteticamente agradáveis, é necessário estar atento às subjetividades que as compõem, seja no mundo físico ou no digital. Dessa forma, é necessária a preparação e o alinhamento com os novos softwares e tecnologias para que a profissão seja reinventada, mas sem perder sua essência “humana”.

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