Ascensão da cultura latino-americana

Por décadas, as manifestações culturais da América Latina permaneceram à margem do circuito artístico internacional, frequentemente reduzidas a estereótipos de exotismo ou interpretadas sob um olhar carregado de estranhamento. Essa marginalização se explicava, em grande parte, pela hegemonia dos movimentos artísticos europeus e norte-americanos, que ditavam padrões de prestígio e visibilidade. Contudo, esse cenário vem se transformando nos últimos anos, em um processo de reposicionamento histórico e estético que atingiu um novo ápice em 2025. A valorização da cultura latino-americana hoje resulta de diversos fatores como os esforços sistemáticos de instituições culturais, a crescente presença da população latina em países estrangeiros, conflitos socioeconômicos e políticos, entre outros.

No interior desse fenômeno mais abrangente, o Brasil ocupa uma posição de destaque particular. O estilo de vida brasileiro, marcado por sua pluralidade cultural, tornou-se referência estética e comportamental em diversos setores, desde a música aos cenários do design e da gastronomia. A valorização da moda com identidade tropical e a ascensão de influenciadores que traduzem a criatividade brasileira em escala global ilustram como o país, outrora visto apenas pela lente do exotismo, hoje é celebrado como um epicentro cultural de tendências. Esse protagonismo revela não apenas a força da produção artística nacional, mas também uma mudança de paradigma no modo como o mundo consome, interpreta e integra a cultura latino-americana ao mainstream internacional. 

Musicalidade

Entre os diversos elementos que compõem a ascensão da cultura latino-americana, a música se destaca como um dos mais influentes e representativos. Gêneros como o funk brasileiro, o reggaeton, a bachata e o dembow dominicano ultrapassaram as fronteiras regionais e se tornaram símbolos de identidade, resistência e inovação cultural. Um exemplo emblemático desse processo é o porto-riquenho Benito Antonio Martínez Ocasio, conhecido mundialmente como Bad Bunny. Rapper, cantor, ator e produtor musical, o artista consolidou o trap latino como uma força internacional, sendo considerado uma das maiores vozes da nova geração. Hoje, esse fortalecimento está extremamente ligado à conectividade das novas gerações nas redes sociais – as melodias se tornam trends, as batidas trilhas sonoras de desfiles de moda e rostos latinos capas de grandes publicidades internacionais. 

O turismo e a valorização da experiência

O setor de turismo na América Latina também acompanha de perto o crescimento cultural da região, impulsionado por tendências globais que privilegiam a reconexão com a natureza, o crescimento do wellness e o interesse por estilos de vida mais saudáveis. A busca por viagens com propósito que unem autenticidade, cultura e experiências de aventura tem levado turistas internacionais a olharem além dos tradicionais destinos europeus e norte-americanos. Nesse contexto, a América Latina, com sua diversidade natural e cultural, surge como um território que oferecendo desde o ecoturismo em áreas preservadas até experiências gastronômicas únicas. Os números refletem esse cenário. De acordo com a CNN, o Brasil se tornou o líder do turismo na América do Sul em 2025. Dados oficiais do Governo Federal apontam que turistas estrangeiros injetaram quase R$ 4 bilhões (US$ 791 milhões) na economia brasileira em abril de 2025, o maior valor registrado para o mês desde o início da série histórica, em 1995.

O resgate das raízes artesanais e a valorização do simbólico

O interesse pelo resgate das raízes artesanais e dos rituais que carregam significados de pertencimento, tradição e confiança já é pauta entre as novas tendências de consumo, e na América Latina, esse resgate artesanal ganha uma dimensão ainda mais potente devido a herança cultural profundamente enraizada em práticas manuais. Um exemplo marcante é o chimarrão, prática ancestral do Cone Sul, que ultrapassa a função de uma simples bebida para se afirmar como símbolo de coletividade e identidade cultural.

A cena em que Meghan Markle aparece tomando chimarrão na série With Love, Meghan, da Netflix, ilustra a forma como rituais locais podem se projetar globalmente. Esse fenômeno permeia o campo cultural e se reflete no mercado de consumo contemporâneo. Em um cenário no qual consumidores buscam autenticidade e conexão emocional com as marcas, o retorno a práticas tradicionais tornou-se uma estratégia de diferenciação. “Rituais como o chimarrão voltam com força pois materializam a confiança em algo tangível”, afirma o especialista Carlos Busch. A valorização do artesanal, nesse sentido, vai além da estética: traduz-se em confiança, transparência e no desejo de recuperar um ritmo mais humano diante da aceleração digital e da padronização industrial.

O fortalecimento de marcas nacionais

A expansão da cultura latino-americana também se reflete no universo das marcas brasileiras, que têm conquistado espaço de maneira expressiva no cenário internacional. A Havaianas, por exemplo, transformou-se em uma das maiores obsessões do street style internacional. Em agosto deste ano, as sandálias apareceram como um dos itens mais trendy na Semana de Moda de Copenhague, se tornando um item essencial no guarda roupa das europeias. Além da parceria com a com a alemã Zellerfeld na confecção do seu primeiro chinelo produzido em impressão 3D totalmente sustentável, a marca também estreou nas passarelas de Milão em parceria com a Dolce & Gabbana em seu desfile masculino para o verão de 2026.

Outro case importante é a da marca Sol de Janeiro, que em 2024 se tornou a marca mais vendida da Sephora, rede mundial de cosméticos. Inspirada no lifestyle carioca e no espírito festivo brasileiro, a empresa tem conquistado o mundo com fragrâncias e linhas de cuidados corporais e capilares

Além das marcas consolidadas, estilistas brasileiros também vêm ganhando projeção individual, como Pedro Andrade e Paula Kim, que levaram a força da moda nacional às passarelas da Paris Fashion Week.

A crescente valorização cultural direciona insights estratégicos nos campos das tendências e macrotendências. Monitorar estes movimentos culturais digitais para traduzir em campanhas, produtos e serviços de impacto é essencial. Dito isso, o time da PGB separou alguns pontos importantes a serem analisados a seguir: 

– A música e a cultura pop têm se tornado vetores de influência global entre as novas gerações, tornando-se uma linguagem universal. 

– O turismo de experiência e intencionalidade vem como ferramenta de autodescoberta, bem-estar e reconexão com a natureza. Com a valorização do ecoturismo e o turismo de aventura, criar produtos e serviços com narrativas autênticas que traduzam essa ideia será um diferencial. 

– O resgate e a revalorização das raízes artesanais resulta da busca por autenticidade e pertencimento em tempos digitais. 

– A ascensão de marcas nacionais reforça a importância da criação de coleções que destaquem a autenticidade cultural, buscando o storytelling da brasilidade.

– A vida saudável se estabelece como estilo de vida aspiracional global.

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