CASE: Arte Imersiva: foco na experiência

Após o destaque e aceitação dos ambientes instagramáveis, que favorecem os registros para as redes sociais, as exposições de arte que utilizam tecnologias de realidade mista (MR) – opção que une realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) – são outra crescente na indústria de atrações, elevando consideravelmente o número de experiências oferecidas neste segmento. Essas atrações exibem arte de novas maneiras, muitas vezes digitalmente. Alguns locais dão vida a obras de arte famosas, outros usam projetores digitais, holografia e mix de realidades alternativas, e ainda, proporcionam aos visitantes a possibilidade de desfrutar de passagens secretas e salas de instalação.

Experiências de “corpo inteiro”, envolvendo diversos sentidos, como a visão, a audição, o tato e, às vezes, até o olfato, permitem que os espectadores sintam-se parte da obra de arte e tornem-se protagonistas das exposições. Os visitantes, agora, passam de observadores passivos – como no modelo tradicional dos museus – para uma parte importante dentro do contexto.

TeamLab

Essas mostras de arte imersiva refletem uma mudança cultural em direção à instagramificação da arte, na qual o espaço do museu ou da galeria se torna um local de entretenimento. A crescente popularidade desse tipo de experiência artística tem um precedente na arte moderna e contemporânea, onde artistas e curadores brincam com essa ideia há décadas. O editor da Art in America, Brian Droitcour, sugere que os trabalhos imersivos são o próximo passo em uma mudança cultural em direção à fusão de marketing, entretenimento e mídias sociais com o mundo da arte.

Para alguns, as artes imersivas diluem a experiência da galeria, levando a uma geração de visitantes que se sente muito mais confortável tirando fotos para o feed do Instagram do que pensando profundamente sobre o real significado das obras de arte. Como exemplo, a série da Netflix sobre uma jovem profissional de marketing americana, “Emily in Paris”, certamente auxiliou na proliferação da busca por experiências imersivas após a protagonista visitar “Van Gogh, Starry Night”, uma exposição no L’Atelier des Lumières, um “centro de artes digitais” da vida real em Paris, na temporada que foi exibida no final de 2020.

Van Gogh

A arte imersiva também reflete a ascensão das tecnologias digitais de consumo e os comportamentos e expectativas que elas cultivam. Janet Kraynak, historiadora da arte e professora da Universidade de Columbia, argumentou em 2020 que o museu, “em vez de ser substituído pela internet, está sendo cada vez mais reconfigurado a partir dela”. Os museus agora tratam os visitantes como se fossem os “usuários” de um produto de consumo e, assim, atendem às suas preferências, criando ambientes “agradáveis, sem confronto” e enfatizando a interatividade.

Apesar da capacidade da tecnologia virtual de nos afastar da realidade e nos levar para os reinos da fantasia, muitos artistas usam a existência virtual para gerar uma conexão mais profunda com o ambiente natural. O uso de espaços artísticos como divertidos, interativos e envolventes é visto como uma forma de conectar e atrair novos públicos, particularmente aqueles que não se sentem atraídos pelas exibições tradicionais. Galerias de arte e museus perceberam que as oportunidades integradas de “conteúdo gerado pelo usuário” (UGC) podem ser lucrativas, onde o desejo de participar como espectador na atribuição de significado ou contribuir para a criação de significado é crucial para esse tipo de trabalho imersivo. Esse desejo de “entrar na obra de arte” talvez seja um dos principais motivos pelo qual as experiências artísticas imersivas se tornaram tão populares.

“Van Gogh, Starry Night”

A mostra é composta por uma série de projeções digitais em larga escala do trabalho do pintor, completas com sons e visuais que giram em torno do espaço expositivo. As pinturas se movem pela parede, envolvendo o visitante que flui pelo centro dos floreios coloridos do artista.

“Van Gogh, Starry Night” não foi a primeira exposição imersiva de Vincent van Gogh, mas de repente diversos locais da América do Norte começaram a ser ocupadas com projeções de impacto. Atualmente, existem pelo menos cinco exposições digitais distintas apresentando o trabalho de Van Gogh, estacionadas em cidades de todo o mundo.

Van Gogh

Yayoi Kusama

Há décadas, alguns artistas já marcam espaços ricos em tecnologia que incorporam o corpo humano. Desde os anos 60, Yayoi Kusama trabalha com imersão, usando instalação de luz LED e ilusões de ótica espelhadas para criar suas “Infinity Mirror Rooms”.

Um dos primeiros exemplos, Love Forever, fazia parte da exposição provocativa Kusama’s Peep Show. Kusama pediu aos espectadores que olhassem através de um olho mágico, descobrindo uma imagem repetida de si mesmos e de outro visitante em uma câmara espelhada. Desde então, ela exibiu interações de seus Infinity Mirror Rooms em todo o mundo, incluindo uma exposição de 2021 na Tate Modern em Londres.

Yayoi Kusama

Kusama descreve esse processo como “auto-obliteração”, sugerindo um dos paradoxos centrais desse meio: a arte imersiva é sobre tornar-se parte de algo muito maior do que o corpo, absorvendo-se totalmente estando dentro e não diante da obra de arte. Por isso, a artista convida os espectadores a se questionarem sobre o senso de espaço e o lugar que ocupam em suas obras.

Yayoi Kusama

TeamLab

Desde 2001, o coletivo internacional de arte TeamLab, com sede em Tóquio, cria obras de arte experimentais e imersivas que colocam o espectador-visitante no centro do trabalho. O coletivo combina arte, tecnologia e ciência para produzir explorações em ideias de espaço e tempo. Eles são um grupo multidisciplinar de artistas, animadores, engenheiros, arquitetos e programadores e visam investigar ideias de percepção através de seus trabalhos.

Conhecido por suas instalações de luz saturada e reativa, o teamLab lançou um “museu de arte digital” em parceria com o incorporador imobiliário japonês Mori em 2018. Desde então, o grupo abriu outro museu em Xangai, um espaço de arte imersivo num hotel de luxo em Macau e exposições em Paris, Praga, Barcelona e Nova Iorque. Em 2024, o teamLab lançará “o maior museu de arte digital da Europa”, em Hamburgo.

TeamLab

THE LUME

Em parceria com a Grande Experiences, uma empresa australiana de criação de conteúdo, a Newfields converteu um andar de seu prédio em um espaço de exibição dedicado à arte digital imersiva, chamado THE LUME. Os materiais de marketing descrevem o THE LUME como uma “galeria de arte digital contemporânea, de última geração e totalmente imersiva” envolvendo cento e cinquenta projetores, trilhas sonoras, opções temáticas de comidas e bebidas e “aromas sugestivos”.

THE LUME
THE LUME

No Brasil

Obviamente, por aqui esse movimento também já começou a ganhar força. De Frida Kahlo à Van Gogh, passando por Michelangelo e Da Vinci, dezenas de exposições de arte imersiva estão espalhadas pelas capitais brasileiras, levando essa nova mistura da arte com tecnologia.

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