[ANÁLISE] Relação Música x Estética

Dentro da arte, é comum ocorrer a influência de uma forma de manifestação artística para a outra. É possível encontrar na história da arte diversos movimentos sendo representados tanto na pintura, escultura, literatura, música e vestuário de forma simultânea, criando expressões e materializações universais dentro de cada contexto. As artes imateriais, como no caso da música, criam amplo espaço para integração com as representações materializadas. Dessa forma é possível estabelecer uma forte relação entre ambas as categorias, como visto no vestuário associado aos estilos de música, por exemplo. Muitas vezes, no século XX, houve a criação de uma estética associada a um estilo musical, como consequência orgânica da sua difusão. Essa ideia fica clara ao pensarmos na indumentária relativa a movimentos como o hippiepunk e grunge.

No caso da “adaptação” do conceito das músicas para a vestimenta, observamos a utilização de elementos como cores e formas que carregassem mensagens associadas ao contexto de inspiração das letras ou até mesmo da própria melodia. Dentro do hippie, as peças que transmitiam acessibilidade – por conta dos tecidos fluidos, estampas repletas de linhas curvas e pela mistura de cores de predominância terrosa, trazendo elementos da serenidade a qual almejavam, e de cores vibrantes, com o otimismo de que poderiam conquistar os seus objetivos. Já no punk, havia a utilização de cores vibrantes, porém com um caráter provocativo. Elementos como a utilização de linhas retas e acessórios de metal, como os spikes, comunicavam o desejo de distanciamento e de aversão às normas da sociedade da época. O grunge, por sua vez, apresentava também um certo grau de distanciamento da sociedade geral. Entretanto, nessa subcultura, a materialização desse sentimento ocorria de uma forma mais despojada.

Dentro da cultura pop há também a afiliação de um conceito estético com um tipo de música de forma fabricada, alinhada com o desejo de imagem dos artistas e do sentimento que buscam passar com as suas obras. Contemporaneamente, um exemplo desse caso é a artista estadunidense Beyoncé; a qual utilizou a relação entre a música e a estética, a fim de criar um produto, conforme a mensagem necessária para a comunicação de sua visão artística. A partir de álbuns visuais, que são a união de todas as músicas do álbum com uma produção cinematográfica, Beyoncé traz elementos que reforçam o conceito da obra.

Lemonade – Beyoncé
ApeShit – Jay Z e Beyoncé

Beyoncé vem trabalhando com álbuns visuais desde 2013, com o seu álbum homônimo, porém foi com Lemonade que o formato ganhou notoriedade, retratando questões da sua vida pessoal e, especialmente, de discriminação racial dos Estados Unidos. Seguindo isso, Beyoncé – acompanhada de Jay-Z- divulgou “Apeshit”, música cujo clipe foi gravado no Louvre, em Paris, constantemente ranqueado como o museu mais visitado do mundo. Entre takes de dança contemporânea e as obras de arte do museu, o casal busca deixar evidente a falta de representação e a forma em que os negros foram retratados historicamente, nas poucas vezes que eram feitos visíveis – além de trazer para esse centro de cultura ocidental a influência dos artistas negros, a partir da fusão de diferentes elementos artísticos.

Outra utilização na música em junção com outras formas de arte – no caso da dança e moda – se deu na terceira edição do desfile Savage X Fenty, de 2021, que assim como suas edições anteriores combina a moda, dança e música com arquitetura icônica e performances, sendo que a segunda edição foi indicada ao Emmy em 2020 na categoria de coreografias. O desfile – diferente do formato de apresentação de coleções de vestuário tradicional – exibe as peças em um formato que é mais próximo à vídeos musicais, contando com performances de artistas internacionais, dançarinos e modelos variadas, reiterando o conceito de diversidade que Rihanna, a idealizadora da marca, propõe.

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