Encerrando o circuito do Fashion Month, a Semana de Moda de Paris reafirmou seu papel como palco de grandes viradas na história da moda, mas desta vez com um tom mais transformador do que tradicional. Realizada entre 29 de setembro e 7 de outubro de 2025, a temporada de primavera-verão 2026 foi marcada por um número expressivo de estreias de diretores criativos, cada um carregando o desafio de reinterpretar o legado de maisons consagradas sob o olhar atento do mercado global. Entre os mais aguardados estavam Matthieu Blazy, após sua notável passagem pela Bottega Veneta, e Jonathan Anderson, que revelou sua primeira coleção feminina à frente da Dior, além de nomes que assumiram o comando criativo em casas como Balenciaga, Maison Margiela, Loewe, Mugler, Jean Paul Gaultier e Carven. Mais do que uma sucessão de desfiles, Paris se mostrou um verdadeiro campo de provas, onde cada coleção se tornou parte de um processo maior: a reinvenção dos códigos de marcas históricas em um momento em que a indústria enfrenta queda na demanda, mudanças no desejo do consumidor e pressão crescente por inovação. O resultado foi uma temporada de alto risco e grande impacto cultural, na qual a moda francesa se viu obrigada a provar, mais uma vez, sua capacidade de se reinventar diante dos desafios contemporâneos.
As passarelas revelaram uma ressignificação da sensualidade contemporânea, com composições que combinaram transparências, rendas delicadas e lingeries aparentes com a força estrutural do tailoring. Essa dualidade entre vulnerabilidade e poder traduz o espírito do tempo. Paralelamente, uma leveza inédita percorreu as coleções, expressa em tecidos fluídos e silhuetas livres, apontando para uma moda mais sensorial e individual. Nessa perspectiva, vestir-se deixa de ser uma resposta às normas e torna-se um gesto de autenticidade, em que conforto, liberdade e expressão pessoal coexistem de forma harmônica.



Cores exuberantes
Na Semana de Moda de Paris, a paleta cromática se destacou pela amplitude e diversidade, em contraste com outras capitais onde os tons terrosos dominaram. Se por um lado o marrom e suas variações mantiveram presença discreta, por outro, o que se viu foi uma explosão de cores intensas como vermelho, amarelo e laranja. Tons específicos também chamaram a atenção: o chartreuse, ainda em aparições pontuais, e o lilás, que já havia ganhado força em Milão e continuou a marcar presença em Paris. No entanto, o verdadeiro destaque foi o rosa pastel, adotado por maisons como Dior, Tom Ford e Louis Vuitton, que exploraram a suavidade e a delicadeza da tonalidade em composições sofisticadas. Essa multiplicidade cromática traduz o momento da moda parisiense, que busca equilibrar tradição e frescor, propondo uma estética que vai da sobriedade terrosa à exuberância colorida, em sintonia com o desejo atual por pluralidade e liberdade de expressão.




Couro, plumas e transparências
Os materiais e acabamentos confirmaram a busca por texturas que equilibram impacto visual e apelo sensorial. O couro manteve sua posição de destaque, reafirmando-se como matéria-prima versátil, capaz de transitar entre peças estruturadas e criações de apelo mais experimental. Já nas propostas de acabamento, as franjas – que dominaram a temporada anterior – reapareceram em algumas coleções, mas dividiram espaço com as plumas, reinterpretadas por muitos estilistas como alternativa sofisticada para transmitir leveza e movimento nas coleções. As transparências e a utilização de pijamas e lingeries também se consolidaram como linguagem recorrente, não apenas em vestidos etéreos, mas em sobreposições arquitetônicas que desafiam o limite entre sensualidade e delicadeza. Os tecidos vazados, por sua vez, acrescentaram um aspecto artesanal e ventilado, reforçando a ideia de frescor para o verão.









Volumetria estratégia e sensualidade contemporânea
As passarelas parisienses também evidenciaram uma clara valorização de formas estruturadas e proporções ousadas, com destaque para os ombros avantajados no retorno do tailoring, as golas elevadas e as saias rodadas com modelagem balonê e oversized. Em diversas coleções, casacos, sobretudos e vestidos adotaram a silhueta em formato de ampulheta, reinterpretada na versão redingote, como exemplificado pela Mugler. Essa modelagem, de cintura bem marcada, destaca de maneira elegante as curvas do corpo, acentuando ombros e quadris por meio de volumes suavemente arredondados. Já os comprimentos midi e mini revelaram a dualidade que tem pautado o vestuário atual: de um lado a elegância contida e de outro, a liberdade jovial. No conjunto, a variedade de formas aponta para um verão em que o jogo entre volume e redução, cobertura e exposição, se torna o fio condutor da narrativa estética.






Cinco tendências para apostar
– Ombros marcantes e saias balonê sinalizam que o consumidor buscará peças de impacto visual, com proporções ousadas.
– O retorno do crop top e a valorização de transparências sugerem uma estética que explora a pele de forma sofisticada, atendendo à demanda por peças que equilibram ousadia e elegância.
– Couro, tecidos vazados, franjas e plumas mostram que a combinação de materiais contrastantes será essencial para criar narrativas visuais ricas.
– A predominância do rosa pastel e a presença de tons vibrantes como chartreuse, lilás e vermelho reforçam o papel da cor como linguagem afetiva e aspiracional.- As coleções refletiram um diálogo entre elementos clássicos (golas altas, tailoring) e a reinvenção de códigos (plumas reinterpretadas, recortes reveladores). Para designers e produtores, a chave está em explorar esse contraste, oferecendo produtos e narrativas que revisitam heranças estilísticas sob um olhar atualizado.