ALTA JOALHERIA

As apresentações de alta joalheria tornaram-se uma plataforma para os criadores se reconectarem com a moda e seu legado, onde a  Alta costura tem se tornado um ponto de inspiração frequente para o segmento de joias. A utilização de elementos de design das marcas – isto é, os símbolos e códigos associados com as maisons – sempre estiveram presente na joalheria, mas é recente a sua utilização como parte central das coleções e seus atributos. Em temporadas anteriores, divulgadas em 2023, vimos elementos como a representação do tweed em joias da Chanel, além de diamantes lapidados com o monograma da Louis Vuitton, que seguem fazendo parte dos novos produtos. Agora, nesta temporada, é vista a utilização de elementos visuais resultados do trabalho artesanal utilizado nas roupas de Alta Costura.

Se a quantidade de marcas que participam da Semana de Alta Costura do país apresentando peças de vestuário é de número exclusivo, não há palavras para definir a seção de Alta Joalheria. Na temporada de Primavera/Verão 24 apenas 3 marcas apresentaram suas coleções, onde a Boucheron era a única empresa que trabalhava exclusivamente com joias. A nova coleção foi intitulada “The power of couture” e possuía referências ao universo da Alta Costura, ao lado da inspiração no traje cerimonial, totalizando 24 peças. Alguns dos elementos utilizados incluíam técnicas como o bordado e o tricô, além de itens que podem ser funcionais ou puramente decorativos nas roupas, como botões e laços. Para a confecção das joias, os materiais utilizados incluíam o quartzo incolor e os diamantes, em bases de ouro branco, formando itens monocromáticos, divergindo muito das peças extremamente coloridas da coleção anterior.

As outras duas marcas que apresentaram suas coleções de joalheria, à medida que também desfilaram as suas coleções de vestuário, foram Dior e Louis Vuitton. A coleção da Dior, chamada “Délicat” teve como conceito central a estética de bordados e rendas, emulando os padrões criados por essas técnicas. Para a criação das 69 peças, foram utilizadas gemas como rubis, esmeraldas, safiras, turmalinas rubelitas, tanzanitas e opalas, junto ao ouro de cores variadas e muitos diamantes, formando peças assimétricas e com elementos florais. Similar ao caso da Boucheron, mesmo utilizando várias gemas coloridas, as joias divulgadas não faziam uma mistura de cores, se limitando a uma variedade por peça, muito diferente do que vinha sendo apresentado pela marca, que apostou em joias multicoloridas.

Entre as três coleções apresentadas, sem dúvidas, a da Louis Vuitton, nomeada “Deep Time”, foi a mais colorida e mais extensa. Com 95 designs divididos entre 13 temas, o conceito geral foram dois atos: Geologia e a Vida, abrangendo o nascimento do planeta até a criação da vida. No conceito Geologia foram incluídos os temas: Laurasia, Gondwana, onda, ruptura, vulcão e deriva, enquanto no Vida faziam parte: origem, miríade, simbiose, fósseis, ossos, sementes, pele, plantas, voo e flores. Utilizando uma grande parcela de gemas conhecidas, como as utilizadas pela Dior, além de espinélios, zircônias e granadas, junto ao ouro e a platina, as combinações de cores incluíam tons complementares e, principalmente, análogos.

Além da pouca mistura de cores dentro das coleções e o uso pesado de diamante nas peças, a priorização das formas orgânicas foi algo facilmente percebido. Mesmo nas joias de Boucheron e Dior, que traziam temáticas que poderiam ser interpretadas de forma objetiva e mais técnica, foram utilizados elementos botânicos. Essa consistência dos elementos e a priorização do uso de apenas um metal separa a parte visual da Alta Joalheria e a joalheria convencional, onde a mistura de cores de metais dourados e prata ainda é a preferida, junto de gemas com uma cartela de cores mais ampla.