Análise | South by Southwest – SXSW 25

O South by Southwest (SXSW) é um dos maiores festivais globais de inovação, reunindo tecnologia, música, cinema e cultura em Austin, Texas. Em 2024, o evento recebeu mais de 300 mil participantes de cerca de 100 países, com mais de 3 mil palestras e painéis sobre temas como inteligência artificial e cultura digital. Além de sua influência criativa, o festival também movimenta a economia local, gerando US$ 380 milhões para Austin em 2023. Com uma forte presença internacional, o SXSW segue como referência para tendências e debates que moldam o futuro.

Edição de 2025 ocorreu de 7 a 15 de março, mantendo sua relevância e trazendo novidades já em sua abertura. Hugh Forrest, presidente e diretor de programação do evento, deu as boas-vindas ao público destacando as inovações desta edição e reforçando os valores de criatividade e comunidade que fazem do SXSW um marco global. Ao longo dos oito dias de programação, foram mais de 1.500 painéis e palestras, além das exibições de filmes e apresentações musicais – um formato mais enxuto em relação ao ano anterior, mas sem perder a intensidade das discussões e a diversidade de conteúdos.

Mais uma vez presente no SXSW, Amy Webb reforçou por que continua sendo um dos nomes mais influentes da futurologia contemporânea. Com seu tradicional relatório de tendências – agora sob o nome Future Today Strategy Group – ela apresentou, em 2025, um novo termo para descrever a próxima fase da revolução tecnológica: Living Intelligence.

Amy fala da convergência real entre IA, robótica, sensores, biotecnologia e materiais avançados – e não mais como ficção. A inteligência já não é apenas digital, agora é encarnada: sensores que habitam o corpo humano, robôs que aprendem sozinhos, próteses que conectam cérebro e máquina, e computadores feitos com neurônios vivos. Parece ficção científica, certo? Mas o alerta é real: se parte de uma máquina é viva, quem cuida do seu bem-estar? Onde mora a ética em um mundo onde “pensar” não é mais exclusividade biológica?

O mercado de trabalho se reorganiza. Robôs humanoides assumem tarefas de cuidado, serviço e manutenção. A bioengenharia, impulsionada pela IA, promete novos medicamentos, tecidos sintéticos biológicos e alimentos geneticamente otimizados. E a cidade também muda de pele: metamateriais, sensores e inteligência distribuída inauguram a era das infraestruturas reconfiguráveis, capazes de se adaptar ao tempo, ao uso e ao comportamento das pessoas.

No fundo, o recado de Webb é claro: é o fim da tecnologia como setor e o início dela como ecossistema integrado à vida. Um shift de mentalidade, de operação e, principalmente, de responsabilidade.

Assim como abordamos na NRF em nosso artigo de fevereiro, algumas temáticas se repetem no SXSW 2025 – entre elas, o resgate das conexões humanas em um cenário cada vez mais tecnológico. Na NRF, vimos que, em um mundo saturado de digitalização, o varejo físico ganha força ao oferecer experiências sensoriais e emocionais autênticas, criando vínculos duradouros entre marcas e consumidores.

O SXSW 2025 foi além ao destacar como, em um mundo hiperconectado, as relações humanas reais se tornam essenciais para o bem-estar e a produtividade. A solidão no ambiente de trabalho, por exemplo, foi tema central na abertura do evento, com especialistas reforçando que, para as empresas, cultivar conexões genuínas entre colaboradores não é apenas uma questão de bem-estar, mas uma estratégia vital para engajamento e inovação.

Essa perspectiva de humanização também atravessa as experiências de marca. O SXSW mostrou como tecnologias imersivas, como a IA generativa, podem promover comunicações mais fluídas e personalizadas – desde que não percam de vista a importância de interações reais e significativas. As marcas estão sendo desafiadas a equilibrar inovação com autenticidade, criando experiências que ressoem com os valores e emoções de seus públicos.

Ambos os eventos apontam para a mesma direção: em tempos de excesso tecnológico e desconexão digital, as marcas que conseguirem nutrir relações humanas verdadeiras – no trabalho, no varejo ou na comunicação – terão um lugar privilegiado no coração dos consumidores. Paradoxo, metáfora e poesia pavimentarão o caminho. Não encontraremos as respostas em sistemas binários. Será preciso sair dos prédios dos computadores e visitar os prédios das artes liberais.

Paradoxo, metáfora e poesia pavimentarão o caminho e nos ajudarão a lidar com cenários complexos. Não encontraremos a solução em sistemas binários de IA. Termos de sair dos prédios dos computadores e visitar os prédios das artes liberais.

Brené Brown

As redes sociais estão passando por uma transformação acelerada – e as marcas que ainda insistem nas fórmulas tradicionais correm o risco de se tornarem irrelevantes. No SXSW 2025, ficou claro que a nova fase do social media é mais rápida, ousada e, acima de tudo, divertida. A lógica agora é cultural antes de ser publicitária: campanhas lineares dão lugar a narrativas caóticas, memes em tempo real e interações sem medo de errar o tom.

O caso do Duolingo é emblemático. Ao “matar” seu próprio mascote nas redes sociais, a marca provocou uma onda de engajamento absurda – não por seguir uma cartilha de branding, mas por abraçar o absurdo com coragem e timing perfeito. O público não quer mais ver anúncios; quer participar da construção da marca.

O novo jogo da comunicação é dinâmico e volátil – e exige coragem para ceder o controle. Mas quem entra de cabeça colhe os frutos: visibilidade orgânica, afeto genuíno e relevância cultural. O marketing de hoje é um diálogo improvisado, e as marcas que se destacam são aquelas que não têm medo de errar ao vivo.

Um destaque brasileiro no SXSW 2025 foi o Batom Inteligente, desenvolvido pelo Grupo Boticário em parceria com o CESAR, que conquistou o People’s Choice Award, o prêmio mais importante da premiação. Considerado o “Oscar da Inovação”, o SXSW reconheceu o projeto como um exemplo de impacto positivo e acessibilidade. 

O Batom Inteligente é um protótipo criado para proporcionar autonomia na aplicação de maquiagem a pessoas com deficiência visual ou limitações motoras. Utilizando tecnologias avançadas como inteligência artificial e visão computacional, o dispositivo permite que o usuário aplique o batom de forma independente em apenas dois minutos. Este prêmio destaca a capacidade brasileira de criar soluções tecnológicas que promovem inclusão e acessibilidade.