SILHUETAS: FLUIDEZ E RIGIDEZ

Nas últimas temporadas, visualizamos um forte foco em materiais e texturas, trazendo uma experimentação com formas orgânicas no vestuário, culminando em temáticas como Earthy e Texturizado. Para a temporada de Outono/Inverno 24/25, essa tendência se conduz para um conceito mais literal de leveza, levando a uma observação sobre a forma e a estrutura das peças, naturalmente, culminando em uma maior atenção à forma. Cortes irregulares e silhuetas assimétricas remetem a um efeito despojado e caracterizam a temática que busca quebrar regras formais.

Os materiais seguem sendo um ponto importante nesta semana, junto à modelagem que resultará no produto. Dentro disso, há um amplo uso de tecidos finos, em especial dos transparentes. De acordo com a base de dados da Heuritech, houve uma queda em 2% no uso de tecidos transparentes em coleções apresentadas em Paris e em Milão. Apesar disso, ainda há um vasto número de consumidores que consomem roupas com esse tipo de material, prometendo uma estabilidade. Já a Tagwalk não divulgou números, porém indicou o uso de tecidos transparentes como uma das principais tendências globais, especialmente nos desfiles de Londres.

Considerando esta temática um desdobramento do Earthy, onde era prevalente o uso de cores minerais, ainda é possível identificar um certo uso desses tons, junto a outras cores naturais. Cores suaves variam em matriz, como com verdes e marrons, e em intensidade, porém mantêm o subtom quente, trazendo um fundo de aconchego. Os elementos orgânicos, por suas curvas sinuosas, podem muitas vezes ser associado com características hiperfemininas, se relacionando com o principal elemento dessa temática, a utilização de drapeados. A sua aplicação se deu principalmente em vestidos de festa – que fora isso possuíam uma modelagem simples, alinhadas com o estilo elegante – como nos desfiles de Victoria Beckham, Saint Laurent e Louis Vuitton.

Esses vestidos, assim como a maioria das outras roupas deste conceito, possuíam comprimento midi ou longo, além de mangas longas. Nas saias, algumas possuíam a cintura caída, gerando um foco no quadril, onde o efeito é de um tecido leve se derretendo pelo corpo, enquanto outras eram assimétricas ou possuíam fendas, trazendo um dinamismo para a composição. Nas combinações, uma grande mescla de cores e sobreposições acrescentavam na sensação de movimento.

Naturalmente, ao longo das semanas de moda também é observada uma temática com estética e conceitos opostos aos de movimentação livre. Enquanto na fluidez encontramos uma corrente natural, nesta temática a artificialidade da silhueta é resultado da evolução da temática da gamificação, com uma dose de surrealismo, sendo a mais futurista de todas desta temporada. Em termos estéticos, as marcas apostaram em pontos focais irreverentes e diferentes dos tradicionais, sugerindo diferentes proporções e pontos de vista, por meio de peças extremamente estruturadas.

Entre os principais pontos de análise e construção de uma roupa, é possível considerar a silhueta como o ponto mais marcante da temática. Apesar da constante aqui ser a estrutura rígida da silhueta, ela pode ser atingida nas coleções pelo uso de diferentes materiais. McQueen apostou em versões tecnológicas, à medida que JW Anderson e Balmain trouxeram materiais texturizados e Jil Sanders e Rick Owens apostaram em materiais lisos.

Apesar das suas diferenças, o drapeado também aparece neste conceito, acompanhado de outros elementos como o balonê e o trompe-l’œil, que é gerado pelos recortes e outras manipulações, assim como aparece em estampas, como de Bottega Veneta. As manipulações são vistas mirando em alterar, especialmente, a percepção do torso e dos ombros, onde é criada a noção de superdimensionamento, e dos quadris, que são alargados.

As cores utilizadas são alinhadas com aquelas vistas ao longo de diferentes interpretações do Outono/Inverno 24/25, onde foram priorizadas cores neutras e uma cartela enxuta. Nas 20 principais marcas desta temporada, o preto, cinza, branco, bege e marrom somaram quase 80% de utilização nas coleções, independente do ponto de inspiração. Nesta temática, ainda são observadas a utilização minoritária de tons de azul, verde e amarelo.