No dia 23 de setembro, Milão voltou a se tornar o epicentro da moda internacional ao abrir as portas para a Fashion Week de primavera/verão de 2026. Mais do que um palco para a apresentação das novas coleções, esta edição assumiu um papel simbólico, marcada pela memória, pela transição criativa e pelas perspectivas para o futuro do sistema da moda italiana. A narrativa da semana foi fortemente conduzida pelas estreias de novos diretores criativos em algumas das casas mais influentes do país, como Demna em sua primeira coleção à frente da Gucci, Louise Trotter na inauguração de sua gestão na Bottega Veneta, Simone Bellotti na direção artística da Jil Sander e Versace sob o olhar de Dario Vitale.
A memória e o patrimônio estético foram revisitados em releituras inteligentes de códigos históricos, estampas e cortes, demonstrando que olhar para os arquivos é uma estratégia para projetar a moda no futuro. Essa edição reforçou ainda o papel da moda como experiência coletiva: se antes os desfiles eram territórios exclusivos, restritos a poucos convidados, agora se abrem para a energia espontânea do público. Além disso, alguns valores culturais como o multiculturalismo e a cooperação também estiveram presentes. Um denominador comum que atravessou as apresentações foi a retomada dos anos 1980, marcada por ombros exagerados, levemente caídos, e pela presença forte da alfaiataria, resultando em uma moda que dialoga com passado e futuro, mas que sobretudo se ancora em valores urgentes do presente. Algumas referências dos anos 60 com o estilo hippie também foram palco da semana de moda italiana.



A dualidade da moda refletida em cores
Evidenciando uma busca por narrativas visuais que transitam entre o refinamento atemporal e o impacto vibrante, a paleta de cores apresentada na Semana de Moda de Milão revelou uma diversidade calculada entre sobriedade e intensidade. Os neutros quentes, especialmente os terrosos, trouxeram equilíbrio e sofisticação às propostas. Os luminosos, como o amarelo, vermelho e roxo ultravioleta evocavam frescor. As tonalidades delicadas de rosa em versão pastel reforçaram composições de caráter etéreo.







Entre flores, rendas e plumas
Além da valorização do artesanal com o uso de bordados, tramas e materiais tricotados, as transparências sutis elaboradas com camadas de tule sobreposto estiveram em alta na temporada, trazendo novidade no repertório de estampas florais. Entre os destaques, o diálogo entre lingerie e vestuário cotidiano consolidou o underwear como outerwear, com sutiãs de seda e renda assumindo protagonismo sob camisas abertas ou combinados a peças de alfaiataria e couro. As franjas, que marcaram presença nas coleções de outono e inverno, permanecem em algumas propostas, enquanto outros designers as substituíram por plumas aplicadas de forma sutil e estratégica. O couro também foi um dos pontos altos da semana, aparecendo com frequência nos desfiles de Bottega Veneta, Prada e Sportmax.









Os anos 80 estão de volta
O verão 2026 de Milão reafirmou o protagonismo do tailoring feminino, que surgiu lapidado e sofisticado, em sintonia com a busca por uma alfaiataria que alia rigor técnico e modernidade estética. Contudo, o grande destaque ficou por conta dos ombros estruturados e imponentes, herança direta dos anos 1980, revisitados em versões contemporâneas totalmente geométricas. Grandes maisons como Bottega Veneta e Max Mara retomam o power dressing em uma reflexão sobre força, presença e identidade feminina. Os comprimentos midi e mini foram os mais presentes na temporada.






Cinco tendências para apostar
– A abertura da moda para o público mais amplo, antes restrito a círculos exclusivos, reforça um movimento de inclusão. Investir em eventos interativos, ativações urbanas e narrativas que engajem o público de forma direta pode ser um diferencial.
– Referências aos anos 1980, especialmente nos ombros estruturados e na alfaiataria, sinalizam uma valorização da memória estilística.
– O underwear como outerwear, em especial lingeries de seda e renda em sobreposições sofisticadas, redefine o conceito de sensualidade para além do óbvio. Essa tendência dialoga com o público que valoriza autenticidade e autoconfiança.
– Bordados, rendas, crochês e tules sobrepostos trazem apelo manual e autenticidade, em contraste ao excesso de industrialização. O consumidor demonstra crescente interesse por peças com caráter único, que carreguem história e valor humano.- O tailoring feminino, reinterpretado com ombros marcantes e cortes precisos, reforça o retorno do power dressing.